terça-feira, 2 de junho de 2015

Ser

Quando voltei, a vida foi num raio. A marca de sua chegada fui eu e eu continuo sendo ela.

O rio Níger se lavou em sangue e sustenta o meu corpo. Vivo e pulsante, levo na barra da saia todas as possibilidades.

Posso ser brisa, mas posso mover montanhas.
Posso, até, não fazer nada.

Posso silenciar, mas posso esbravejar.
Posso, até, não dizer nada.

Mas quando eu quiser, tenha certeza: você ouvirá.

Tempestades lavam as feridas das batalhas e um touro implacável barra dos meus caminhos todo o mal.

Iansã desnuda as minhas palhas e me mostra e beleza em mim, em você, em nós.

Oyá me levanta e assopra em mim vento e fogo. Por isso, eu sou uma transformação plural, constante e crescente.

Eparrei Oyá!


terça-feira, 19 de maio de 2015

Cavaleiro de Mim

Pensando em sentimentos que não sei sentir, tento organizar peixes em virgem; enxergar o cosmos com uma lanterna.
Me perco em metáforas não-solutivas, inventando máscaras e cobrindo-as com véus.
Novamente e pela primeira vez, fico íntimo da noite.
Saboreando a embriaguez que sentimentos desencontrados trazem ao labirinto, conheço um novo lado da nossa relação.

Calma. Silenciosa. Vagarosamente amedrontadora. Me observa placidamente. E eu troco as vontades como quem troca o lixo: casual, apática e rapidamente.

Alimenta meus cálculos. Quantas horas de sono? Quantos anos e dedicação trarão o sucesso profissional almejado há três minutos? Quanto de mim é meu e quanto é imaturamente pueril, engatando respostas ditas certas sequencialmente?

Em quanto tempo isso -e eu- vai passar?

Quando as estrelas cobrem o céu, trazem com ela minhas dúvidas para seu banho de lua. Com os pés na terra, tento entender o que se passa enquanto asas se chocam milhares de pés acima. Chovem certezas, necessidades, tesões e medo. Serenam sentidos e significados cuja existência eu não imaginava.

Dentro de mim naufragam navios, balões alçam vôos. Eu me afogo enquanto pulo de árvore em árvore. Em mim, maremotos afagam vulcões incomodados. Vou à guerra com uma espada cega e os olhos vendados. Saio, aparentemente, ileso. Cheiro de carne queimada, cinzas...Gritos e súplicas agonizantes. Sou eu quem os escuta e quem os profere.