Por onde andará Etelvina?
A amiga divertida, dos episódios engraçados em qualquer passeio, viagem ou história de grupos. Aquela que simplesmente não pode faltar. Aquela amiga de
sair todo final de semana, que está sempre na sua casa e muitas vezes
conversa mais com os seus pais do que com você. Quantos momentos não
compartilhamos, quantas histórias não vivemos. Muitas das quais você conta até
hoje, quando toma um copo de vinho ou dois, com outros amigos, novos,
crescidos, adultos. Todos temos esses amigos. Todos tivemos esses
amigos.
A deles se chamava Etelvina. Por ouvir dizer, era
das pessoas mais engraçadas, sempre metia os pés pelas mãos e quando ia pensar, já tinha feito - mais um bom caso para contar. Não sabem por onde ela anda. Casou-se, teve dois filhos, talvez três.
Talvez more no Rio, mas certa vez alguém falou que havia se mudado.
Eu me pergunto o que diabos aconteceu e porque não a conheço. Porque
ela nunca foi na festinha de 2 anos, na 1ª comunhão ou nos 15 anos da
minha irmã. Seria pela inexistência do facebook, do Orkut? Ou porque há
menos de 20 anos atrás celulares não faziam parte do nosso dia a dia? Quem
sabe os bip’s sejam os culpados, máquinas feitas para acabar com as amizades através de mensagens curtas?
O fato é que tudo que eu sempre escutei por aí acabou se provando
verdadeiro com o tempo. A primeira delas sendo que o tempo explica muitas coisas. “Mãe, eu odeio ir pra escola, quero crescer logo”. Merecia um tapa! Voltaria agora, de preferência pro jardim, pra viver tudo
de novo. E por aí foi. Ou melhor, vai. Mas o fato é que sempre escutamos que
quando somos jovens temos muitos amigos, aos milhões, e que eles não ficam. E
me deprime pensar que as pessoas com quem falo no whatsapp, instragram, facebook,
telefone (tão antigo) podem não fazer mais parte da minha vida quando essas redes já
forem vintages. Se é que elas serão, afinal, o futuro a Deus pertence.
Mas e se nos revoltarmos contra isso? Imagino que seja impossível porque já
hoje, do altoda jeunesse dorrée eu tenho certa preguiça de encontrar muitos dos
que me são queridos todas as vezes em que teria oportunidade de o fazer. E eles
também. Então eu vou vendo a formatura, o aniversário, o noivado e talvez até o
casamento pelas fotos postadas, os status compartilhados...Mas será esse o
início do fim? Será que estamos fadados a acompanhar de longe, até que todos
cresçamos e tenhamos a “crise da limpa”, onde vamos nos excluir uns aos outros,
amigos que poderiam ter sido, que se bem desejam ao longe sem o dizer e de repente
não mais se importarão? Amigos que até nos farão pensar “nossa, que saudade do
fulano...mas tem tanto tempo que a gente se fala, ele anda tão diferente...acho
que não tem mais nada a ver mandar um recado”...Será que não? Pelo menos teremos
a oportunidade.
Amigos queridos, eu desejo todos vocês na minha vida hoje e
sempre. Se não desejasse já não teria necessidade de que estivessem no meu presente. Vamos
aproveitar que está mais fácil pra ficar juntinhos, mesmo que longe. Quem se quer bem pode o fazer abraçando ou lembrando, pensando, sorrindo em frente a uma tela do outro lado do mundo. Saibam que
o carinho, o afeto e a preocupação muitas vezes estão manifestados em um simples like, sem comentário nem nada...
Talvez se meus pais tivessem isso eles poderiam saber
quantos filhos a Etelvina teve e onde ela mora. Talvez eles tivessem até
abertura suficiente pra mandar uma inbox relembrando um caso antigo e marcando
um chopp que nunca iria acontecer, como nós fazemos muitas vezes. Mas que pelo
menos continuemos nos prometendo esse encontro encontro a possibilidade dele acontecer, por mais remota, pelo menos seja possível.